
15 Ideias de Atividades Infantis sobre Abolição de Escravatura
Falar sobre a abolição da escravatura com crianças pode parecer, à primeira vista, um desafio delicado. No entanto, é justamente na infância que construímos os valores fundamentais sobre justiça, empatia e respeito ao próximo. Ensinar sobre a história da escravidão e sua abolição é uma oportunidade poderosa de trabalhar não apenas os conteúdos curriculares de história, mas também temas transversais como direitos humanos, diversidade cultural e consciência social.
Muitos educadores buscam caminhos para tornar esses temas mais acessíveis e significativos para o universo infantil. Com o apoio de atividades criativas e lúdicas, é possível contextualizar os acontecimentos históricos de maneira sensível, respeitosa e educativa, despertando nos pequenos o senso de pertencimento e responsabilidade social.
Essas 15 ideias de atividades infantis sobre a abolição foram pensadas para diferentes faixas etárias e podem ser adaptadas conforme o nível de compreensão das crianças. Elas valorizam a narrativa histórica, a oralidade, a expressão artística e a escuta ativa, promovendo aprendizado e reflexão.
Roda de conversa com contação de histórias
Organize um momento especial de roda para contar a história da abolição da escravatura. Utilize uma linguagem acessível e, se possível, traga personagens históricos como Zumbi dos Palmares, Dandara, Luís Gama e Princesa Isabel, para mostrar diferentes perspectivas da luta pela liberdade. Estimule as crianças a fazer perguntas, comentar e expressar seus sentimentos.
Linha do tempo ilustrada
Em uma cartolina ou mural, crie uma linha do tempo dos principais eventos relacionados à escravidão e à sua abolição no Brasil. Deixe que as crianças desenhem os momentos marcantes, como a assinatura da Lei Áurea em 13 de maio de 1888. Essa atividade ajuda a construir a noção de passado, presente e continuidade histórica.
Teatro de fantoches: liberdade em cena
Com fantoches feitos de papel ou tecido, monte uma pequena peça teatral em que personagens escravizados conquistam a liberdade. Incentive as crianças a criar os diálogos e a encenar, trabalhando a empatia e a valorização da liberdade como direito fundamental.
Atividade artística: “O que é ser livre?”
Proponha uma atividade de colagem ou pintura a partir da pergunta “O que é ser livre para você?”. Essa proposta estimula a reflexão e a expressão criativa, permitindo que a criança associe a ideia de liberdade ao seu próprio cotidiano, criando conexões afetivas com o tema da abolição.
Leitura compartilhada de livros infantis sobre a escravidão
Escolha livros infantis com linguagem adequada e que abordem a história da escravidão e da abolição de maneira sensível. Exemplos como Menina Bonita do Laço de Fita (Ana Maria Machado) ou O Cabelo de Lelê (Valéria Belém) ajudam a trabalhar autoestima, identidade e história afro-brasileira. Leia em grupo e converse sobre o conteúdo.
Oficina de música afro-brasileira
Explore ritmos e canções de origem africana que foram preservadas pelos descendentes de escravizados. Tambor, atabaque e palmas podem ser usados para criar um momento de vivência musical. Aproveite para contar sobre como a cultura africana resistiu e se integrou à cultura brasileira, mesmo em contextos de opressão.
Jogo da memória com personagens históricos
Crie um jogo da memória com imagens e nomes de personagens importantes na luta contra a escravidão. Cada vez que uma dupla for formada, incentive as crianças a contarem algo que aprenderam sobre aquela pessoa. Essa técnica favorece a fixação do conteúdo histórico de forma divertida.
Visita virtual a museus da escravidão
Diversos museus oferecem visitas virtuais com exposições sobre a escravidão e a abolição. Explore com a turma imagens, objetos históricos e relatos de época. Depois, promova uma conversa sobre o que mais chamou atenção de cada criança. Sites como o do Museu Afro Brasil são ótimos pontos de partida.
Jogo simbólico: “Caminho para a liberdade”
Monte um circuito no chão da sala ou do pátio, com obstáculos e desafios que representem a luta dos negros escravizados. Cada etapa vencida representa um avanço na conquista da liberdade. O objetivo é vivenciar, mesmo que simbolicamente, o esforço coletivo pela emancipação.
Álbum da memória afro-brasileira
Peça que cada criança pesquise ou crie uma imagem sobre personalidades negras importantes para a história do Brasil. Monte um álbum coletivo, em cartaz ou digital, com colagens, desenhos e legendas explicativas. Isso fortalece o reconhecimento e a valorização de figuras até então invisibilizadas.
Brincadeiras tradicionais de origem africana
Resgate brincadeiras como puxa-encolhe, boca de forno e pega-pega africano, que possuem raízes nas culturas trazidas pelos povos escravizados. Ensinar essas brincadeiras e contar suas origens ajuda a mostrar que a cultura africana está viva e presente no dia a dia das crianças.
Poema coletivo sobre liberdade
Convide os alunos a escreverem juntos um poema sobre o que significa liberdade. Dê início com frases como: “Ser livre é…”, e incentive a turma a completar. O poema pode ser ilustrado e exposto no mural da escola ou lido em uma apresentação especial.
Criação de um jornalzinho da turma
Ajude a turma a montar um pequeno jornal com reportagens, entrevistas fictícias com personagens históricos, charges e desenhos sobre o tema da escravidão e sua abolição. Essa atividade reforça o aprendizado interdisciplinar e estimula a criatividade e o senso crítico.
Carta para a liberdade
Peça para que cada criança escreva (ou dite) uma carta imaginária para alguém que viveu na época da escravidão. Elas podem falar sobre o que sabem hoje, desejar liberdade ou refletir sobre a importância de viver em um mundo mais justo. Essa prática estimula empatia e senso histórico.
Mural da resistência
Reserve um espaço na sala para criar o “Mural da Resistência”, onde os alunos podem colar frases, imagens e mensagens sobre liberdade, respeito e igualdade. Incentive que o mural seja alimentado ao longo do mês, como uma construção coletiva da memória.
Por que essas atividades são tão importantes?
Através dessas atividades, a escola pode ser um espaço de memória, reconhecimento e reparação. Trabalhar o tema da abolição com crianças é um passo fundamental para formar cidadãos mais conscientes, críticos e respeitosos. Em vez de simplificar ou omitir a história, propomos abordá-la com profundidade, humanidade e criatividade.
Ao ensinar sobre a abolição da escravatura, estamos ensinando também sobre resiliência, resistência cultural e a importância da luta por justiça — valores que continuam fundamentais em nossa sociedade.
Refletir sobre a abolição da escravatura com crianças vai muito além de transmitir uma data comemorativa ou uma narrativa pronta. É um exercício constante de memória, de construção de identidade e de responsabilidade social. A escola, como espaço de formação cidadã, deve assumir o compromisso de oferecer uma educação antirracista desde os primeiros anos, permitindo que as crianças compreendam as raízes das desigualdades e reconheçam o valor da diversidade cultural brasileira.
É essencial lembrar que a abolição formal da escravidão, com a assinatura da Lei Áurea em 1888, não significou automaticamente a liberdade plena para os negros no Brasil. A exclusão, o racismo estrutural e a marginalização continuaram — e, em muitos aspectos, persistem até hoje. Por isso, ao abordar o tema com crianças, é importante apresentar a abolição como um marco simbólico dentro de uma luta muito maior, que ainda está em curso.
As atividades infantis sugeridas aqui não têm como objetivo apenas entreter ou “cumprir um conteúdo”. Elas foram pensadas para provocar reflexão, promover identificação e valorizar a história afro-brasileira, tão negligenciada nos currículos escolares. Ao criar oportunidades de diálogo e escuta ativa, damos às crianças ferramentas para se tornarem adultos mais justos, empáticos e engajados na transformação social.
Outro ponto relevante é o papel da representatividade. Crianças negras precisam se ver nas histórias que escutam, nos livros que leem, nas atividades que realizam. E crianças brancas também precisam aprender, desde cedo, a reconhecer os privilégios históricos e a importância de lutar contra o racismo em suas diversas formas. A educação sobre a abolição deve ser, portanto, inclusiva e abrangente, construída com afeto e responsabilidade.
Muitas vezes, evitamos tocar em temas difíceis na infância por medo de causar sofrimento ou confusão. Mas silenciar a dor histórica é perpetuar a ignorância. Crianças têm uma enorme capacidade de compreensão e empatia, desde que sejam conduzidas com linguagem acessível, sensibilidade e respeito. É possível falar de sofrimento sem traumatizar, assim como é possível celebrar conquistas sem romantizar injustiças.
As atividades lúdicas, artísticas e interativas apresentadas neste texto são um ponto de partida para essa abordagem. Ao permitir que as crianças expressem suas emoções, criem narrativas próprias e vivenciem situações simbólicas, damos a elas um protagonismo que faz toda a diferença no processo de aprendizagem. A história deixa de ser um conteúdo frio e distante para se tornar algo vivo, atual e relevante.
Não há como construir um futuro mais justo sem encarar as injustiças do passado. Ensinar sobre a abolição é um ato político no melhor sentido da palavra: um gesto de compromisso com a construção de um país mais equitativo. Ao resgatar a memória dos que lutaram, resistiram e sobreviveram, honramos sua força e oferecemos às novas gerações um exemplo de coragem e esperança.
Além disso, o trabalho com o tema da escravidão e sua abolição abre portas para discussões mais amplas sobre direitos humanos, equidade, respeito às diferenças e responsabilidade coletiva. As crianças aprendem que a liberdade não é apenas um conceito abstrato, mas um direito concreto que deve ser garantido a todos, sem exceção. E que, para isso, é preciso agir — na escola, na comunidade, no mundo.
Por fim, cabe aos educadores, familiares e cuidadores manterem viva essa chama da memória e da justiça. Que as atividades sobre a abolição da escravatura não sejam isoladas ou pontuais, mas parte de uma prática pedagógica contínua, comprometida com a formação integral das crianças. Porque ensinar sobre o passado é, sobretudo, uma maneira de cuidar do futuro.
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